11 dezembro, 2011

O Natal do menino


O meninozinho olhava os pedestres que iam e vinham, de todos os tamanhos, cores, formas, e ficava pensando:
_ O que será que gente grande pensa que gente pequena pensa no Natal?
Foi quando o macaquinho pulador, aquele que o vendedor ambulante fazia sacudir na ponta de um fio de borracha, embalou conversa:
_ E o que a gente pequena pensa?
_Ora, disse o menino, depende da gente pequena. Eu por exemplo, penso que... penso que... Bem..., eu não penso nada.
_Ora, não vai me dizer que você não gostaria de ganhar uma bicicleta de Natal!
-Pra que pensar? Eu não vou ganhar mesmo! Então já tiro o problema da cabeça...
_Olha, às vezes acontece um milagre...
_O milagre sempre precisa de um empurrãozinho...
_A gente dá um empurrãozinho e Deus ajuda...
O meninozinho foi até a vitrina das bicicletas. Ficou parado, olhando.
Com uma bicicleta, o que ele não faria! Botava a quitanda nas costas e lá se ia, ligeiro cortando estradas morros...
A caixa de graxas também poderia andar de cá para lá, procurando freguesia... Tá, mas para que pensar, não é?
Foi na volta que ele viu aquela coisa no chão.
Era marrom e estava estufada. Apanhou: uma carteira! E cheia de notas! Notas grandes! Documentos! Um mundo de papeizinhos...
Logo o menininho pensou no milagre – estava ali. Era só entrar na loja e pedir:
_Moço, dá uma bicicleta...
No meio dos cartões, uma foto. Puxou e olhou. Eram dois lindos garotos...
Os olhos confiantes pareciam dizer:
_ ”Nós também esperamos o nosso milagre...”
O meninozinho nem pensou mais. Correu para a redação do jornal e falou com o chefe:
_Moço, eu achei essa carteira. Quer anunciar?
Tomaram nota do seu nome, fizeram muitas perguntas. Pediram até o seu endereço. Investigaram sua vida.
E o meninozinho voltou para seu mundo, o caixãozinho de graxas, na vizinhança do macaco pulador.
_ O que será que gente grande pensa que gente pequena pensa no Natal?...pensava ele.
E os dias se seguiam, em ritmo intenso de movimento e cor.
No bairro do meninozinho, pouca coisa lembrava que era Natal: uma garotinha com panelinhas de plástico, um menorzinho com um auto ou um tambor.
Foi quando o grande Opala invadiu a favela, para assombro e admiração de toda a gente pobre que morava ali.
Parou na frente da maloca do meninozinho.
_É aqui que mora...?
_Sim...
Lá estava a bicicleta linda de se ver!
E o importante é que nem precisou do empurrãozinho no milagre...

Autora do texto: Maria Dinorah, A gaitinha do Seu Zé, Pioneira, 1983

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