24 março, 2012


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24 de março - Data do Nascimento do Poeta Brasileiro Olegário Mariano





Biografia


Terceiro ocupante da Cadeira 21, eleito em 23 de dezembro de 1926, na sucessão de Mário de Alencar e recebido pelo Acadêmico Gustavo Barroso em 20 de abril de 1927. Recebeu o Acadêmico Guilherme de Almeida.
Olegário Mariano (O. M. Carneiro da Cunha), poeta, político e diplomata, nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.
Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha, herói pernambucano da Abolição e da República, e de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o secundário no Colégio Pestalozzi, na cidade natal, e cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Freqüentou a roda literária de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimentos, perfeitamente identificada com os preceitos do Simbolismo, já em declínio.
Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Representou o Brasil, em 1918, como secretário de embaixada à Bolívia, na Missão Melo Franco. Foi deputado à Assembléia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal em 1953-54. Exerceu o cargo de oficial do 4o Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas.
Em concurso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Olegário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac o primeiro a obtê-lo.
Além da obra poética iniciada em livro em 1911, e enfeixada nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957), publicados pela José Olympio, Olegário Mariano publicou durante anos, nas revistas Careta e Para Todos, sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida Caixa de brinquedos.
Sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o “poeta das cigarras”, por causa de um de seus temas prediletos.


Bibliografia
Obras: Angelus (1911); Sonetos (1921); Evangelho da sombra e do silêncio (1913); Água corrente, com uma carta prefácio de Olavo Bilac (1917); Últimas cigarras (1920); Castelos na areia (1922); Cidade maravilhosa (1923); Bataclan, crônicas em verso (1927); Canto da minha terra (1931); Destino (1931); Poemas de amor e de saudade (1932); Teatro (1932); Antologia de tradutores (1932); Poesias escolhidas (1932); O amor na poesia brasileira (1933); Vida Caixa de brinquedos, crônicas em verso (1933); O enamorado da vida, com prefácio de Júlio Dantas (1937); Abolição da escravatura e os Homens do Norte, conferência (1939); Em louvor da língua portuguesa (1940); A vida que já vivi, memórias (1945): Quando vem baixando o crepúsculo (1945); Cantigas de encurtar caminho (1949); Tangará conta histórias, poesia infantil (1953); Toda uma vida de poesia, 2 vols. (1957).


Textos Escolhidos


DO MEU TEMPO...
Quando eu era menino e tinha cheia
A alma de sonhos bons e, fugidio,
Como a abelha que voa da colmeia,
Andava a errar do canavial bravio;
Quando em noites de junho o luar macio
Punha um lençol de rendas sobre a areia,
Tiritava de medo ouvindo o pio
Da coruja mais lúgubre da aldeia.
Feliz! Bendita essa primeira idade!
Andava como quem anda sonhando
De olhos abertos, com a felicidade.
Dormia tarde e enquanto eu não dormia,
Mamãe rezava o padre-nosso e quando
Me mandava rezar, eu não sabia.
(Sonetos, 1912.)

O MEU RETRATO
Sou magro, sou comprido, sou bizarro,
Tendo muito de orgulho e de altivez.
Trago a pender dos lábios um cigarro,
Misto de fumo turco e fumo inglês.
Tenho a cara raspada e cor de barro.
Sou talvez meio excêntrico, talvez.
De quando em quando da memória varro
A saudade de alguém que assim me fez.
Amo os cães, amo os pássaros e as flores.
Cultivo a tradição da minha raça
Golpeada de aventuras e de amores.
E assim vivo, desatinado e a esmo.
As poucas sensações da vida escassa
São sensações que nascem de mim mesmo.
(Evangelho da sombra e do silêncio, 1912.)


A CIGARRA QUE FICOU
Depois de ouvir por tanto tempo, a fio,
As cigarras, bem perto ou nas distâncias,
Só me ficou no coração vazio
A saudade de antigas ressonâncias...
Todas se foram... bando fugidio
Em busca do calor de outras estâncias,
Carregando nas asas como um rio
Leva nas águas - seus desejos e ânsias...
E ainda cantaram na hora da partida:
Era um clamor dentro da madrugada...
Essa, entretanto, desgarrou daquelas,
E entrou, tonta de luz, na minha vida,
Porque sabia que era a mais amada,
E cantava melhor que todas elas...
(Últimas cigarras, 1920.)

AS VOZES DA NATUREZA
As vozes que nos vêm da natureza
Traduzem sempre um mútuo sentimento.
Cantam as frondes pela voz do vento,
Pelo manancial canta a represa.
Pelas estrelas canta o firmamento
Nas suas grandes noites de beleza.
Cada nota a outra nota vive presa,
É um pensamento de outro pensamento.
Pelas folhas murmura a voz da estrada,
Pelos salgueiros canta a água parada
E o amigo sol, apenas se levanta,
Jogando o manto de ouro ao céu deserto,
Chama as cigarras todas para perto,
Que é na voz das cigarras que ele canta.
(Últimas cigarras, 1920.)


CONSELHO DE AMIGO
Cigarra! Levo a ouvir-te o dia inteiro,
Gosto da tua frívola cantiga,
Mas vou dar-te um conselho, rapariga:
Trata de abastecer o teu celeiro.
Trabalha, segue o exemplo da formiga,
Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro,
E tu, não tendo um pouso hospitaleiro,
Pedirás... e é bem triste ser mendiga!
E ela, ouvindo os conselhos que eu lhe dava
(Quem dá conselhos sempre se consome...)
Continuava cantando... continuava...
Parece que no canto ela dizia:
- Se eu deixar de cantar morro de fome...
Que a cantiga é o meu pão de cada dia.
(Últimas cigarras, 1920.)


AS ALMAS DAS CIGARRAS
As cigarras morreram... Todavia
Sinto um leve rumor tranqüilo e lento
Que vai, de ramaria em ramaria,
Lento e tranqüilo como o pensamento.
.
As cigarras não são, porque, outro dia,
Vi que soltavam o último lamento...
E o vento? Deve ser a alma do vento
Que entre os ramos das árvores cicia...
Entretanto o rumor parece eterno...
Agora que as estrelas se acenderam,
Vibra num coro, em serenata, ao luar...
Contam os lavradores que, no inverno,
As almas das cigarras que morreram
Ressuscitam nas folhas a cantar.
(Últimas cigarras, 1920.)


A ÚLTIMA CIGARRA
Todas cantaram para mim. A ouvi-las,
Purifiquei meu sonho adolescente,
Quando a vida corria doidamente
Como um regato de águas intranqüilas.
Diante da luz do sol que eu tinha em frente,
Escancarei os braços e as pupilas.
Cigarras que eu amei! Para possui-las,
Sofri na vida como pouca gente.
E veio o outono... Por que veio o outono ?
Prata nos meus cabelos... Abandono...
Deserta a estrada... Quanta folha morta!
Mas, no esplendor do derradeiro poente,
Uma nova cigarra, diferente;
Como um raio de sol, bateu-me à porta.
(Últimas cigarras, 1920.)


DESTINO
Aquela voz era intranqüila. Trago-a
No ouvido ainda ininterruptamente:
Voz de alma que sofreu, voz de vivente,
Desoladora e trêmula de mágoa.
Era o rio da Vida; a água paciente
Que, arrastando calhaus, de frágua em frágua
Ora beijava a sombra na corrente,
Ora abraçava o Sol com os braços de água.
Deus te leve, água pura e fresca!... A treva
Não te interrompa a marcha transitória,
Porque o Destino ingrato que te leva
Para o vale florido ou o amplo deserto,
É o mesmo que me arrasta o passo incerto
Para o despenhadeiro ou para a Glória.
(Destino, 1931.)


LÍNGUA PORTUGUESA
Da avena dos pastores, da harmonia
Que o vento imprime às palmas das palmeiras,
Do bramido do mar e das cachoeiras,
Da voz que impreca à voz que balbucia;
Do sol que fala quando nasce o dia,
Do luar que enche de unção as cordilheiras,
Vem este claro idioma, que é poesia
E alma das gentes luso-brasileiras.
Rumor de asas de abelha, um ruído apenas...
Doce afago de arminhos e de penas,
Perdão, queixume, lágrima, reclamo,
Ou grito estuante de alma incompreendida,
Do desgraçado: "Eu te condeno, ó vida!"
Do poeta que sofreu: "Ó vida, eu te amo!"
(O enamorado da vida, 1937.)


ARREPENDIMENTO
Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alívio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
Não vale o que te dei de encantamento.
Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.
Hoje, ambos à mercê de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.
Padecemos idêntico suplício:
Tu - corroída de pena e de remorso,
Eu - com vergonha do meu sacrifício.
(Cantigas de encurtar caminho, 1949.)


ASPIRAÇÃO
Deve ser bom morrer numa noite como essa!
Beber a luz do luar e sentir-lhe a embriaguez.
Quando se sofre assim, a morte é uma promessa...
Vou tentar ser feliz pela última vez.
Foi diferente a minha vida. Andou depressa.
O que fiz, o destino inclemente desfez.
Quando o amor se dilui e a saudade começa,
Talvez a morte seja um consolo... talvez.
Serei no céu pastor de estrelas... Entre os dedos
Prenderei um punhado delas, uma a uma,
E ao som da avena que um pastor-poeta me deu,
A lua se desmanchará sobre os rochedos,
Para que eu veja nela, em seu vulto de espuma,
A mulher que foi sombra e ... desapareceu.
(Cantigas de encurtar caminho, 1949.)


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