15 janeiro, 2012

Prêmio Faz Diferença- O Globo


Personalidade 2011 vencedor: • Miguel Nicolelis, neurocientista da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociência de Natal (IINN), no Rio Grande do Norte.



Texto de: Roberta Jansen - roberta.jansen@oglobo.com.br


O dia 12 de junho de 2014 promete ser histórico para o Brasil. A abertura de uma Copa do Mundo em território nacional - a a desde 1950 - será como um sonho transformado em realidade para 190 milhões de torcedores.
Fanático por futebol e neurocientista da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e do Instituto Internacional de Neurociência de Natal (IINN), no Rio Grande do Norte, Miguel Nicolelis quer transformar um outro sonho em realidade neste mesmo dia. Quer que o pontapé inicial da partida de abertura, no estádio do Itaquerão, em São Paulo, seja dado por uma criança paraplégica - o maior gol já marcado pela ciência nacional.
- É uma oportunidade única para mostrar que o Brasil é mais que o país do futebol, para mostrar o alcance da ciência brasileira, uma questão de soberania nacional. A ciência faz parte da construção da democracia das nações modernas deste século, quando as sociedades serão chamadas para tomar decisões sobre o planeta e nossa espécie - defende Nicolelis, quase sem tomar fôlego, empolgado com a perspectiva. - Hoje, somos uma grande economia que produz commodities, mas este é o momento da guinada; precisamos entrar na era da economia do conhecimento, ampliar a nossa base científica e disseminar esse conhecimento na população.
Para realizar seu sonho, Nicolelis trabalha há mais de dez anos com afinco e uma maneira muito peculiar de encarar obstáculos: superando-os, um a um, sempre com propostas inusitadas, mesmo para os seus pares.
- Ele é um visionário que sabe pensar diferente e executar o que idealiza; desenvolveu uma maneira completamente distinta de lidar com o sistema nervoso e, ao mesmo tempo, sabe fazer as coisas acontecerem - resume a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da UFRJ. - Essa história da Copa do Mundo, claro, não depende só dele, mas ele é extraordinariamente competente e entende o que é preciso fazer para chegar lá.
O grupo de pesquisa de Nicolelis nos EUA é um dos mais avançados do mundo num campo inovador de pesquisa, conhecido pelo pouco amigável nome de interface cérebro-máquina. Resumidamente, o objetivo dessa linha de estudos é conseguir mover membros virtuais (externos ao corpo) apenas com a força da mente. O feito é possível por meio de um chip implantado no cérebro, capaz de decodificar a atividade elétrica gerada pela intenção do movimento. Esta intenção, por sua vez, é traduzida na forma de comandos digitais. São esses comandos que vão gerar movimento nos membros externos. A tecnologia ajudaria paraplégicos e tetraplégicos a retomarem os movimentos com a ajuda de próteses comandadas pelo cérebro.
- Ele fez o contrário do que todos os neurocientistas costumavam fazer, que era registrar a atividade dos neurônios para entender como eles representam o mundo externo - ex-plica Suzana. - Nicolelis colheu informação da atividade dos neurônios para mover coisas no mundo externo.
A criança que dará o pontapé inicial da Copa do Mundo estará vestida com o protótipo do que o grupo do cientista chama de prótese inteligente - uma estrutura metálica articulada em pontos-chaves dos membros paralisados, que, num futuro um pouco mais distante, poderá estar disponível para todos que tenham lesões paralisantes. Nicolelis garante que o exoesqueleto não seria nada parecido a um "robocop"; é, na verdade, um material extremamente leve.
- Será como um aparelho de reabilitação, uma prótese de corpo inteiro, que permitirá ao paciente realizar os movimentos - revela Nicolelis. - Enquanto a pessoa usá-lo, voltará a ter autonomia.


Autoria do texto: http://oglobo.globo.com/projetos/fazdiferenca/personalidade.asp

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