14 janeiro, 2012



Ouvir para compreender



Da mesma forma que a riqueza da natureza está em sua biodiversidade, a riqueza da humanidade está em suas múltiplas culturas. As diferentes histórias dos povos articulam saberes, experiências, modos de ver e de sentir o mundo pela tradição oral ou escrita, pela arte, pela espiritualidade, pela ciência. Seria impossível compilar a trajetória de todas as culturas porque muitas já desapareceram completamente. Outras deixaram fragmentos de suas atividades e aspirações por meio dos quais nos comunicam um repertório de informações. Povos pré-históricos, por exemplo, ‘falam” conosco em suas pinturas feitas nas cavernas: contam sobre suas estratégias de caça, seus alimentos, suas crenças e sua organização social.
Comunicar, transmitir vivências e habilidades é uma característica da condição humana _ o que permite a cada geração apresentar novos desafios. Somos curiosos e criativos _ quando não estamos atrás de respostas para nossas dúvidas levantamos nossas dúvidas para responder.
Entretanto, compreender o passado e mesmo o que está a nossa volta requer de nossa parte uma abertura, uma disposição para estabelecer pontes de ligação e nos aproximarmos dos outros, sejam eles pessoas, culturas, animais ou a própria natureza. Tudo e todas as coisas, pela simples presença, estão “expressando”, “comunicando” algo que podemos compreender se estamos receptivos. Se estamos disponíveis ao diálogo, que não precisa ser constituído por palavras. Em certas ocasiões, olhares, gestos, toques e até silêncios são mais eloqüentes que discursos!
Às vezes acreditamos já saber o que os outros têm para nos dizer. E com isso perdemos a magnífica oportunidade de aprender experimentar coisas novas. Os preconceitos, a intolerância, os fanatismos, as supostas “certezas” são os maiores entraves para estabelecer linhas de comunicação e relacionamentos cofiáveis, onde a reciprocidade e o respeito mútuo semeiam o terreno do entendimento. Culturas diferentes, crenças diferentes, modos de pensar diferentes, valores diferentes não são necessariamente fonte de divisão, muito menos de confronto. Afirmar a própria identidade pela negação dos outros empobrece e compromete o desenvolvimento pessoal. Com essa atitude, em vez de valorizar a originalidade, as diferenças que todos temos a oferecer, gastamos nossa energia em confrontos com tudo aquilo que é diferente.
Cada um de nós dispõe de uma “janela” para ver e sentir o mundo. E tudo aquilo que percebemos vem “carregado” da nossa história particular e única. Isso é o que nos torna singulares.
Porém, às vezes nossa “janela” fica estreita demais, não percebemos realmente o que acontece. Estamos tão ocupados com nós mesmos que somos incapazes de entender as pessoas...
Ampliar a percepção, abrir espaços novos de conhecimento e compromisso com a realidade são instrumentos essenciais para democratizar nossas relações, tanto no plano mundial quanto no doméstico, com outros povos e também com outras espécies. A arrogância originada da percepção estreita das coisas deu origem a atrocidades e barbáries como a escravatura e a exploração predatória da natureza. Quando a percepção sintoniza apenas interesses particulares, desarticulados das necessidades coletivas, ou seja, do bem comum, existe confronto e desentendimento. Frutos da violação dos direitos fundamentais, que promovem igualdade de oportunidade para todos.

Autoria do texto: Livro Paz como se faz? Semeando cultua de paz nas escolas-Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman –UNESCO-Governo do Estado do RJ

Conheça a página da Represenação da UNESCO no Brasil:
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia
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