27 junho, 2011

O fim da birra



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O fim da birra

Pais e professores devem ser firmes e não ceder aos caprichos das crianças quando eles vêm acompanhados de gritos e choro.


15/12/2010 00:03 Rafaela Bortolin

Você está no shopping e seu filho insiste que quer aquele brinquedo que viu na tevê. Mesmo depois de ouvir a explicação do porquê de não poder tê-lo, o pequeno começa a se alterar e aumenta a voz até que todas as pessoas em volta percebam. Envergonhado, você resiste e, desesperada, a criança começa a chorar, gritar e a se jogar no chão. Pronto: a birra está instalada.


Mas o que fazer nesse caso? Segundo os especialistas: nada melhor que respirar fundo, controlar o nervosismo, ser firme e não ceder. “O problema é que, mesmo sem saber, os pais reforçam esse comportamento para se livrar do vexame em público, fazendo o que a criança quer. Não tem coisa pior que ela fazer um escândalo e, no fim das contas, ser recompensada com o que queria”, explica Karin Bruckheimer, psicóloga infanto-juvenil e psicopedagoga da Clínica Animus.


Esse processo pode ter conse­quências sérias, segundo Maria Elizabeth Nickel Haro, coordenadora da comissão de Educação do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Ao ceder, o pai ensina que não tem porque dialogar se gritar, chorar e ser agressivo são as formas mais certeiras de a criança conseguir o que quer. E que, mesmo que demore um pouco, o filho pode insistir na ‘cena’ que terá sua vontade atendida”, diz.

Pior é quando os adultos desistem e passam a fazer as vontades da criança ao mínimo sinal de birra. “Às vezes, a mãe prevê a choradeira e, para facilitar, dá o que o filho quer sem nem ele pedir.”

Verdade ou mito?
Veja a opinião dos especialistas entrevistados sobre a birra das crianças.

Filhos únicos são mais birrentos
Nem verdade, nem mito. No caso de filhos únicos, é comum que a criança não tenha que dividir a atenção dos pais com outras crianças e se acostume a ter tudo na hora que quer. Mas eles não serão birrentos se os pais se preocuparem em impor e cobrar os limites desde cedo.


Birra acontece em qualquer idade
Mito. Em geral, o comportamento de birra começa logo depois do primeiro ano de vida, quando a criança aprende a andar e falar e pode querer fazer valer suas vontades com gritos e choro. É comum isso permanecer até os 6 anos. Se passar desse tempo, é preciso procurar por um psicólogo, pois pode ser a manifestação de algum problema de personalidade.


Presentes demais incentivam a birra
Verdade. Pais que dão tudo que a criança quer, principalmente presentes e bens materiais, têm grandes chances de criar “pequenos tiranos”, já que a criança não aprende a valorizar seus ganhos, não consegue lidar com as frustrações e acha que é obrigação dos pais agradá-la mesmo sem ela merecer.


Birra é sinal de que a criança é corajosa e persistente
Mito. Em nenhuma hipótese birra é aceitável ou tem uma carga positiva. Se a criança tem personalidade forte, pode demonstrá-la conversando, explicando as razões de suas vontades e chegando a um acordo com os pais.


Causas
Segundo Karin, a birra acontece porque, até os 5 anos, as crianças têm dificuldades de se expressar em palavras. “Por isso, elas usam a expressão corporal e o choro para mostrar que estão insatisfeitas com alguma coisa, contestar os limites e regras e tentar conseguir o que o pais não querem dar.”


Outra causa frequente é a tentativa de chamar a atenção. “Mesmo em casa, os pais passam o dia pensando no trabalho, nas contas para pagar, nos compromissos, e dificilmente têm um tempo especial para prestar atenção aos filhos. Com isso, eles aprendem que só conseguem atenção quando se descontrolam”, diz Maria Elizabeth.

Em ambos os casos, a birra é inaceitável e deve ser contida no início. “Desde pequenas, elas precisam saber que há momentos adequados para tudo e que nem com muita manha vão conseguir fugir das regras”, comenta Alecy Vesgerau, assessora psicopedagógica da Educação Infantil e Ensino Fundamental I do Colégio Marista Paranaense.

Como evitar
Tanto em casa quanto na escola, o melhor é estabelecer as regras de maneira clara e fazer com que todos as sigam. “A criança deve saber claramente o que uma quebra nesse acordo pode causar”, alerta Alecy. Se acontecer algum problema, a velha estratégia do diálogo continua a ser a arma infalível. “Ao invés de gritos, o pai ou professor deve explicar o que aconteceu e deixar claro que aquele comportamento não pode ser aceito”, recomenda.


Segundo as especialistas, dizer “não” na hora certa também adianta (e muito) desde cedo. “Mas só vale quando o ‘não’ vem acompanhado de segurança e atenção. Se ele vem aos gritos, seguido de ameaças ou se torna um ‘sim’ em poucos minutos, tem efeito contrário e incentiva a criança a continuar se comportando de forma errada”, diz Maria Elizabeth.

Mas até as regras têm que ser impostas de maneira equilibrada. “Os pais acham que só eles estão certos, mas as crianças também têm razão em algumas situações e precisam se sentir à vontade para conversar, mostrar sua opinião e sentirem que são verdadeiramente escutadas.”

O que fazer?
Está em dúvida sobre o que fazer quando a criança começa com a birra em público? Veja algumas dicas dos especalistas entrevistados:

- Antes de sair de casa, explique onde vocês vão e o que vão fazer. Combine algumas regras, como não sair de perto de você, não fazer bagunça, não gritar e não chorar. Também dê algumas possibilidades de escolha para ela. Por exemplo: ao invés de determinar as roupas que ela vai usar, selecione duas opções, entre as quais ela deve eleger a preferida.


- Se estiverem só vocês dois no ambiente, quando a birra começar, ignore e não se mostre comovido ou incomodado com a cena. Finja que não está vendo e tente mudar o foco de atenção, falando de outras coisas. E não se preocupe: se o adulto não dá atenção, a criança não demora muito para desistir porque vê que a estratégia não surtiu resultado.

- Caso seja em um local com mais pessoas, intervenha na hora e leve a criança para um lugar reservado para conversar. Se ela estiver chorando, diga que só vai conversar quando ela parar. Após isso, sente na altura dela, olhe nos olhos, pergunte o porquê daquela atitude e explique que ela quebrou uma regra, comentando qual foi e relembrando que havia um acordo de não fazer aquilo. Mantenha a calma, mas seja firme. Não grite, não bata, não faça ameaças e seja direto e breve em seus argumentos.

- Se perceber que a criança entendeu a conversa e está preparada para não repetir aquele comportamento, volte para o local onde estavam antes. Se ela se mostrar arredia ou voltar a fazer birra mesmo depois do acordo, prefira voltar para casa.

- Na próxima vez que vocês saírem de casa, relembre o episódio passado. Pergunte se ela se lembra do que aconteceu, diga que se ela não se comportar vai voltar para casa e novamente perder a festa ou passeio no shopping e faça um acordo de que, dessa vez, não terá birra.

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