21 abril, 2012

Tiradentes

21 de  abril - Homenagem a Tiradentes
“Se dez vidas tivesse, todas eu daria”

Tiradentes
Um menino como outro qualquer

Em 1746 o Brasil era uma colônia empobrecida. Na capitania de Minas Gerais, cuja população não chegava a 200 mil habitantes, boa parte das muitas toneladas de ouro extraídas era recolhida pela Coroa portuguesa e seguia diretamente para Lisboa. Nesse mesmo ano, na fazenda de Pombal, à beira do rio das Mortes, a um passo de São João Del Rei e de São José Del Rei, nasceu Joaquim José da Silva Xavier. Ele era o quarto entre sete irmãos.
Joaquim José era filho de pai português , Domingos da Silva dos Santos, e mãe brasileira, Antônia da Encarnação Xavier, nascida em Minas. Três dos avós eram portugueses e a avó materna paulista. O menino Joaquim José cresceu na fazenda, onde seu pai sem grande sorte, dedicava-se à mineração. Até os nove anos de idade, Joaquim José foi um garoto como outro qualquer, dividido entre os brinquedos com os irmãos, os primeiros ensinamentos da mãe, a curiosidade pelo trabalho de mineração que se fazia em seu redor, as orações aprendidas na capela da fazenda, festas e procissões.
Seu pai nunca foi rico, mas tinha o suficiente. Aos nove anos, Joaquim José ficou órfão de mãe e aos onze perdeu o pai. Aí a família se desfez, cada irmão foi para um canto, Joaquim José para a casa do Padrinho, na Vila de São José. Joaquim José fora batizado na capela anexa a fazenda, tendo como padrinho o cirurgião Sebastião Ferreira Leitão e como madrinha Nossa Senhora da Ajuda. O padrinho Sebastião trabalhava na vila de São José: era especialista em arrancar dentes e substituí-los por novos. Tem-se como certo que foi Sebastião quem ensinou ao afilhado a arte de tirar dentes, além de completar sua alfabetização.

Tiradentes-Um jovem generoso e idealista
Alto magro, forte e vesgo, o menino virou rapaz, hábil no manejo dos ferrinhos com que arrancava dentes. Mas as aspirações de Joaquim José iam além de Minas e dos trabalhos de dentista. Vira muita fortuna se formar, muito aventureiro enriquecer, muito ouro sair da terra, embora o auge da mineração, lá por 1750, já tivesse passado. Agora, aos poucos, o ouro ia rareando. Portugal, com seu poderio reduzido, dependia das importações da Inglaterra mas continuava a viver na ostentação. O que pagava quase todas e o luxo português era o ouro do Brasil. Por isso, o rei acusava a gente da Colônia de burlar a Coroa, quando dizia que as minas estavam esgotadas. Joaquim José apesar de já conhecido como Tiradentes, deixou então de ser dentista, resolvendo primeiro transportar mercadorias numa tropa de burros e depois tentar a sorte nas Minas de ouro. Quando ia progredindo como tropeiro, meteu-se numa grande encrenca: socorreu um escravo que estava sendo castigado e acabou julgado por um tribunal, que o condenou a pagar pesada multa e as custas do processo. Por isso teve de vender seus burricos e mercadorias. O Escravo era propriedade do dono, Tiradentes não tinha o direito - disseram – de se intrometer.
Assim, em dezembro de 1775, aos 30 anos, o minerador sem sorte, o tropeiro tão popular nos caminhos de Minas e Rio, sempre pronto a tratar ou arrancar um dente e capaz de fazer curativos como poucos, sentou praça na 6ª Companhia de Dragões da capitania de Minas Gerais,. Por ser branco e descendente de portugueses cristãos, teve o privilégio de ingressar nas armas já como oficial, sem passar pelos postos subalternos. Tornou-se alferes, o que equivaleria hoje ao posto de 2º tenente.
Nos caminhos de Minas ficou seu riso e seu vozeirão: era conversador, tinha sempre um caso interessante para contar, todos gostavam dele. Soldado, Joaquim José destacou-se pela correção e coragem, primeiro em Minas, depois no Rio de Janeiro, capital da Colônia. Depois de sete anos de serviço- Os anos passavam e Tiradentes continuava um simples alferes, cansado de esperar por uma promoção, pediu baixa. Em 1787, foi para o Rio de Janeiro, onde tentou tornar-se empreiteiro de obras públicas. Já era, nesta época, grande defensor de ideais republicanos e apaixonado pela independência dos Estados Unidos, cuja Constituição estudava bastante.

A declaração de Independência dos americanos (4 de julho de 1776), escrita por Thomas Jefferson, sintetiza bem as concepções filosóficas da época: “São verdades indiscutíveis para nós: que todos os homens nascem iguais; que a todos concedeu o Criador certos direitos inalienáveis, entre os quais estão o da vida, liberdade e a busca da felicidade; que os homens, para assegurarem esses direitos, constituíram governos, cujos justos poderes emanam do consentimento dos governados. Que, toda vez que uma forma de governo contraria esses fins, é um direito do povo alterá-la ou abolí-la e instituir um novo governo, baseando seus fundamentos em princípios tais e organizando seus poderes de tal forma, que a eles pareça contribuir mais eficazmente para sua segurança e felicidade."
 Praticando a medicina para viver, foi ao mesmo tempo, fazendo grandes planos de engenharia. As suas diversas petições para obras estavam na Câmara Municipal e elas exigiriam enormes financiamentos.

Um encontro muito importante
Em 1788 conheceu José Alvares Maciel, que acabara de voltar de uma viagem pela Inglaterra. Da conversa sobre o projeto de construção de um mole, que Tiradentes pretendia erguer, o assunto logo passou para a situação do Brasil e os planos de independência. Maciel chegava da Europa alimentando sonhos de independência. Joaquim vinha de Minas, onde fervia a indignação contra o Governo. Os dois se somaram. A partir daí, foi introduzido no círculo de conspiradores da elite. Tornou-se um dos chefes militares do planejado levante e o elemento de ligação entre os inconfidentes. Os ecos da revolução francesa e a chegada de brasileiros recém-formados que vinham de Coimbra para Vila Rica acabaram por destacar um grupo que começou a reunir-se com regularidade na casa de vários homens ilustres da vila. Álvares Maciel, Cláudio Manuel da Costa, Francisco de Paula Freire de Andrade, Inácio José de Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga e muitos outros já discutiam até a forma de governo que adotariam para o novo estado de coisas.

Um vilão entre os heróis
Em março de 1789, um dos conspiradores, Joaquim Silvério dos Reis, denunciou a conspiração. Silvério dos Reis devia enorme quantia ao Governo Português e para livrar-se das dívidas traiu os inconfidentes. Introduzido no movimento, conheceu todos os segredos. Tinha até uma missão para o dia da revolta: levaria duzentos escravos armados para guardar a estrada do Rio de Janeiro, por onde deveriam vir as tropas do vice-rei fies à Coroa portuguesa. Mas, eram outros os planos de Silvério dos Reis. Com todas as informações sobre a Inconfidência, a 15 de março de 1789 correu ao palácio de Barbacena para trocar a cabeça dos companheiros pelo perdão de suas dívidas. Neste instante crucial, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier não estava em Vila Rica: tinha ido ao Rio com a desculpa de ver como iam os seus requerimentos de obras públicas, para conseguir o apoio da guarnição carioca. Sua ausência na hora da delação e da descoberta dos planos auxiliou o desmoronamento da rebelião.
Eram muitos os inimigos. Com apenas um bacamarte, nada pode fazer o Alferes quando foi preso no Rio. Dias depois, em Vila Rica, seus companheiros também eram detidos. Mais tarde, uma trágica expedição os levaria para o Rio de Janeiro. Ouvido em 22 de maio de 1789 negou tudo, continuou detido. Em 18 de janeiro de 1790, apareceu com resolução nova. Confessou. Não quis, entretanto, que seu ato fosse inútil e frustrado em libertar sua pátria, tentou ao menos salvar os companheiros. E confessou não só a sua participação, mas assumiu a culpa de todos. Mentiu ser o único chefe e apresentou os companheiros como inocentes a quem pervertera.

 “Se dez vidas tivesse, todas eu daria”   Tiradentes

Tiradentes Na morte de um homem, começa o amanhã
Tiradentes foi condenado á forca e seus companheiros deportados para África. Era 21 de abril de 1792. O ar estava cheio de vozes e de tambores. Às 7 da manhã, o negro Capitânia, que vai servir de carrasco, entra no oratório da cadeia, onde esta Tiradentes. Traz nos braços comprida e grossa corda e camisolão branco dos condenados a morte. O carrasco lhe pede perdão pelo que o obrigam a fazer. Tiradentes beija-lhe as mãos. E, sem roupa alguma, veste o feio manto dos que vão para a forca, dizendo:_Meu Salvador morreu também assim, nu, por meus pecados.
Os tambores não cobrem a voz de Tiradentes, que reza com o povo. Súbito, no meio de uma frase, um baque surdo. O bater dos tambores cresce, o corpo de Tiradentes balança no ar. São 11 horas e 20 minutos. O Sol vai alto. Tiradentes está morto.
Frei Raimundo de Penaforte o confessor, abençoa o corpo do herói. Mais tarde escrevia: “...Um espírito inquieto, um homem leal, esse Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, herói sem medo de todo um povo.” A coroa quisera, com espetáculo do enforcamento, afirmar o seu domínio sobre a colônia brasileira. Tiradentes tentara, com o sacrifício, salvar os companheiros e abrir ao povo caminho da emancipação política.”

No dia 21 de abril de 1792 foi enforcado no Rio de Janeiro Tiradentes. Seu corpo foi esquartejado e seus restos foram colocados em pontos principais de Vila Rica. Sua memória foi declarada infame bem como a de seus descendentes. Seus bens foram confiscados.
Quando o Brasil tornou-se independente, alguns anos depois, em 1867, sua memória foi reabilitada e ergueu-se um monumento a Tiradentes em Vila Rica. Com a República, Tiradentes foi declarado herói e o dia 21 de abril feriado nacional. A lei nº 4.897 de 9/12/1965 declarou-o “Patrono Cívico da Nação Brasileira.”

Fontes: Pesquisas em diversos livros didáticos, entre eles: Calendário Cívico Cultural-Ministério da Educação e Cultura-1969; Manual de Pesquisas-Enc. Ilustrada de Ensino Integrado; Grandes Personagens da Nossa História-Ed. Abril Cultural, etc.

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