22 abril, 2012

Descobrimento do Brasil

O descobrimento do Brasil



Havia um acordo entre os reis de Portugal e da Espanha sobre as terras das Américas, conhecidas naquele tempo como Novo Mundo: parte pertenceria a Portugal e parte ficaria com a Espanha. Era o chamado Tratado de Tordesilhas, assinado em 20 de junho de 1494. Segundo ele, haveria uma linha de demarcação que passaria a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, na África. As terras descobertas que ficassem a leste dessa linha seriam dos portugueses, e as que ficassem a oeste pertenceria a Espanha.
Portanto, quando a frota de Cabral aportou na costa do atual Estado da Bahia, estava iniciando o processo de dominação de Portugal apoiado no Tratado de Tordesilhas.


Eles chegaram pelo mar em dez naus e três caravelas

Oficialmente, o Brasil foi descoberto a 22 de abril de 1500, quando a esquadra comandada pelo almirante Pedro Alvares Cabral, constituída de dez naus e três caravelas e com uma tripulação composta por 1.200 homens, que deveria ter seguido a rota das Índias (Dirigiam-se para a Índia na Ásia, onde pretendiam comprar especiarias para revender com grande lucro quando retornassem à sua terra), fundeou às costas do atual estado da Bahia e chegou nas alvas praias de Porto Seguro, no Sul da Bahia. Pedro Álvares Cabral grarantiu a posse destas terras para o rei de Portugal. Terras que hoje fazem parte do território brasileiro.

A Descoberta

Cabral acreditou que havia descoberto apenas uma ilha e denominou-a de Ilha de Vera Cruz. Depois ante a verificação de que se tratava de um verdadeiro continente, passou a ser chamada de Terra de Santa Cruz. Mais tarde, os primeiros exploradores constataram a existência de uma qualidade de árvore, da qual podia ser extraída determinada tinta de larga aplicação na época. Era conhecida esta árvore por "pau-brasil". Foi dessa árvore que se originou o nome de nosso país.
Os navegantes portugueses encontraram muitas pessoas, que foram chamadas por eles de índios, habitando nessas terras, mas não os reconheceram como seus verdadeiros donos.
A esse período da nossa história, chamamos de Período Colonial Brasileiro, porque as terras encontradas passaram a ser colônia do reino português.
Era um dia como qualquer outro para os índios Tupis que habitavam o litoral. Mas, de repente, deixou de ser. O que podem ter sentido quando viram no mar estranhas canoas se aproximando? Nunca tinham visto canoas daquele tamanho. Os barcos, as roupas, as botas, a barba dos marinheiros, as espadas e as armas de fogo, enfim, tudo o que os portugueses traziam consigo era novo, diferente e estranho aos olhos dos índios. Os índios também pareciam esquisitos para os que acabavam de chegar. Por que aquele bando de gente andava sem roupas? Que língua estranha era aquela, que nenhum dos recém-chegados conseguia entender? Que faziam esses homens nesta terra "abandonada", sem contato com o resto do mundo? Com o tempo, os portugueses aprenderam a identificá-los muito bem: eram os bugres, os gentios, os índios.
O contato entre os portugueses e os índios despertaram curiosidade dos dois lados. Para o índio, aqueles homens eram diferentes, de pele branca, com roupas pesadas e belos enfeites. Por sua vez, os europeus viam os nativos com uma mistura de encantamento e

A Primeira missa
Os índígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao assistirem a Primeira Missa rezada por Frei Henrique, de Coimbra, em 26 de abril de 1500. A cruz foi plantada no solo do novo domínio português, que recebera naquele momento, o nome de Ilha de Vera Cruz. Logo depois de realizada a missa, a frota de Cabral rumou a Índia, seu objetivo final, mas enviou um dos navios de volta a Portugal com uma carta de Pero Vaz de Caminha informando ao rei  D. Manuel sobre a conquista das novas terras.

A Carta de Pero Vaz de Caminha
Pero Vaz de Caminha (1437-1500) compôs a frota dirigida por Pedro Álvares Cabral. Na qualidade de escrivão desta referida frota. Nasceu no Porto e faleceu em Calecut, na Índia. Coube a ele redigir uma carta ao rei Dom. Manuel I datada de 1 de maio de 1500 comunicando-lhe sobre o "achamento" da terra brasileira.
Nesta carta Pero Vaz de Caminha relatou com detalhes a paisagem do liltoral do nordeste brasileiro em 1500, os índios que habitavam e os primeiros contatos entre portugueses e indígenas. É um das principais fontes históricas sobre o Descobrimento do Brasil.

Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha

Carta a El Rei D. Manuel

Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear,aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza -- porque o não saberei fazer -- e os pilotos devem ter este cuidado. E portanto, Senhor, do que hei de falar começo: E digo quê: A partida de Belém foi -- como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas,obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto. Na noite seguinte à segunda-feira amanheceu, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com a sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para poder ser !

Fez o capitão suas diligências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais ! E assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando da dita Ilha -- segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas -- os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos.

Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz! Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças -- ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante -- por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças -- até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.

E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram.E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte. Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.

Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza.

E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar. À noite seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus. E especialmente a Capitaina. E sexta pela manhã, às oito horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o Capitão levantar ancoras e fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados na popa, em direção norte, para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde nós ficássemos, para tomar água e lenha. Não por nos já minguar, mas por nos prevenirmos aqui.

E quando fizemos vela estariam já na praia assentados perto do rio obra de sessenta ou setenta homens que se haviam juntado ali aos poucos. Fomos ao longo, e mandou o Capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem. E velejando nós pela costa, na distância de dez léguas do sítio onde tínhamos levantado ferro, acharam os ditos navios pequenos um recife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus foram-se chegando, atrás deles. E um pouco antes de sol-pôsto amainaram também, talvez a uma légua do recife, e ancoraram a onze braças. E estando Afonso Lopez, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, foi, por mandado do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meter-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou dois daqueles homens da terra que estavam numa almadia: mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas não os aproveitou. Logo, já de noite, levou-os à Capitaina, onde foram recebidos com muito prazer e festa.

 A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. ...Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos -- terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!

E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha.


Fonte:Leia a Carta de Pero Vaz de Caminha na íntegra em:http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf
Ministério da Cultura-Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro

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